Saudades

 

Quando observamos, da praia,

 um veleiro a afastar-se da costa,

 navegando mar adentro,

 impelido pela brisa matinal,

 estamos diante de um espetáculo

 de beleza rara.
O barco, impulsionado pela

 força dos ventos, vai ganhando

 o mar azul e nos parece cada vez menor.
Não demora muito e só podemos

 contemplar um pequeno ponto

 branco na linha remota e

indecisa, onde o mar e o céu se encontram.
Quem observa o veleiro sumir

na linha do horizonte, certamente exclamará:

 "já se foi".
Terá sumido? Evaporado? Não,

 certamente. Apenas o perdemos de vista.

 O barco continua do mesmo

tamanho e com a mesma capacidade

 que tinha quando estava próximo de nós.

 Continua tão capaz quanto antes

de levar ao porto de destino

 as cargas recebidas.
O veleiro não evaporou, apenas

 não o podemos mais ver.

Mas ele continua o mesmo.

E talvez, no exato instante em

que alguém diz: "já se foi",

haverá outras vozes,

mais além, a afirmar:

 "lá vem o veleiro"!!!
Assim é a morte.
Quando o veleiro parte,

levando a preciosa carga

de um amor que nos foi caro,

 e o vemos sumir na linha que

 separa o visível do invisível dizemos

: "já se foi".
Terá sumido? Evaporado?

Não, certamente. Apenas

o perdemos de vista.
O ser que amamos

continua o mesmo,

suas conquistas persistem

dentro do mistério divino.
Nada se perde, a não ser o

 corpo físico de que não mais necessita.

 E é assim que, no mesmo

instante em que dizemos:

"já se foi", no além, outro alguém dirá :

"já está chegando". Chegou ao

destino levando consigo as aquisições feitas durante a vida.
Na vida, cada um leva

 sua carga de vícios e virtudes,

 de afetos e desafetos,

até que se resolva por desfazer-se

 do que julgar desnecessário.
A vida é feita de partidas e chegadas.

 De idas e vindas.
E o que para uns parece ser a partida,

para outros é a chegada.
Assim, um dia, todos nós partimos

como seres imortais que somos,

todos nós ao encontro

 Daquele que nos criou.

30-03-19  BE